Tão logo terminou a reunião da Executiva Nacional do PT, na segunda-feira (23), e foi divulgada a nota do partido sobre a decisão do PSB de deixar os cargos no governo, o ruído se instalou: petistas que participaram da reunião saudavam o tom supostamente conciliador do texto e o fato de ele manter a porta aberta ao diálogo, enquanto aliados do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, viam na mensagem mais uma tentativa de emparedá-lo.
Diferença tão cabal de leitura remete a um episódio tão recente quanto emblemático da relação entre os dois partidos. Na negociação para a composição de chapa à Prefeitura de Recife, enquanto Campos achava que estava sendo suficientemente conciliador em apoiar um candidato do PT, Maurício Rands, na capital do Estado, os petistas tratavam de operar para impor a ele o apoio a outro nome, mais conveniente ao partido.
O resultado, então, foi o rompimento. Agora, as coisas parecem levar ao mesmo caminho. Ao insistir na tese de que ou Campos está com o partido, ou está na oposição, o PT dá combustível àqueles no entorno do governador que pregam o afastamento imediato.
Foi assim quando a profusão de recados velados por intermédio da imprensa e dos aliados forçou o governador de Pernambuco a fazer um gesto político de entregar os cargos, e foi assim nesta segunda-feira. Tanto que as reações imediatas foram Campos reunir sua tropa para mandar dizer que nunca foi defensor do bipartidarismo, ''nem na ditadura", e o PSB do Rio Grande do Sul anunciar que deixará o governo de Tarso Genro.
Campos acredita que o ciclo político do PT está prestes a se exaurir. Se não for em 2014, será em 2018.
Em seu cálculo sobre ser ou não candidato a presidente, leva em conta a necessidade de se tornar conhecido agora para ser viável daqui a cinco anos.
Portanto, os acenos para que faça um ''mea culpa'' e volte à nau petista têm, neste momento, poucas chances de encontrar acolhida do outro lado. Para um político que tem sido incentivado pela própria tropa e por setores do empresariado (notadamente financeiro, da construção pesada e do agronegócio) a se apresentar como alternativa a Dilma Rousseff, tais apelos soam como ultimato, tentativa de tutela e desrespeito político.
O PT, se não tivesse pressa em liquidar a fatura no primeiro turno --preocupação que a própria nota trai, ao, num ato falho, falar pela primeira vez em cenário de disputa em segundo turno--, daria tempo ao tempo e esperaria uma oportunidade, que pode acontecer, para que o próprio Campos, não conseguindo se viabilizar economicamente e politicamente para a campanha, recuasse de suas pretensões.
Ao deixar de lado na condução da política partidária o ''soft power'' que o governo emprega nas relações diplomáticas com os vizinhos da América do Sul e tentar impor sua hegemonia, o PT praticamente empurra o ex-aliado para a disputa e, eventualmente, para uma aproximação com o PSDB nos Estados e num eventual segundo turno.
Tal pressão e a não-disfarçada preocupação com que o PT e o governo olham para a reta final da criação da Rede, de Marina Silva, mostram que a proliferação de candidatos, com perfis para além da desgastada polarização entre PT e PSDB, ou ''nós contra eles'' que se depreende da nota petista, não interessa à estratégia petista para a reeleição de Dilma.
Um candidato ''de casa'', considerado novo, jovem, com gestão aprovada em seu Estado e a quem não se pode pespegar as pechas de privatista, anti-políticas sociais e elitista é uma variável política com a qual o PT não gostaria de contar num cenário de reeleição considerado mais difícil do que o discurso oficial faz parecer.
VERA MAGALHÃES
EDITORA DO PAINEL
FOLHA S.PAULO
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